Enquanto Elcana esforçava-se
para que Ana se sentisse amada, tentando de alguma forma compensar a dor que
ela trazia em seu coração por não gerar filhos; Elcana causou na alma de Penina
uma grave enfermidade, que aos poucos foi-se revelando provocando sérios estragos na relação de suas duas esposas.
Penina não se sentia amada
A mulher que não se sente amada pelo marido se sente como se fosse odiada. Todos os filhos de Penina
não puderam suprir a ausência do carinho do seu esposo. Que numa tentativa de
consolar a Ana por sua esterilidade dava a ela toda a atenção, enquanto Penina
era colocada de lado.
Talvez antes deste conflito
Penina e Ana até tenham desenvolvido uma relação afetiva, de amizade,
companheirismo, mas com o passar do tempo, essa relação desgastou-se em razão
de Ana receber todo carinho de Elcana como compensação de sua incapacidade de
gerar filhos.
Isto fez de Penina uma
mulher frustrada, decepcionada consigo mesma – pois era incapaz de conquistar o
coração de Elcana – como mãe ela era uma mulher realizada, mas como esposa era
uma mulher frustrada.
Pessoas que se sentem mal
amadas são marcadas pela revolta, pela apatia, pelo isolamento, pela agressão,
pela fuga e pela tirania. Ana recebia toda a carga negativa da frustração de
Penina
É comum vermos pessoas na
igreja que se sentem ignoradas, desvalorizadas, como peixes fora d’água. Essas pessoas
não querem ser o foco das atenções, nem receber a maior fatia do bolo. Desejam apenas
sentirem-se valorizadas, importantes, parte da igreja. Negar isso a elas é
negar-lhes uma oportunidade de serem felizes.
Penina via Ana como uma
rival.
Para Penina, Ana era apenas
uma rival que roubava toda a atenção do seu marido enquanto ela era colocada de
lado. Penina era incapaz de compadecer-se de Ana, pois o seu coração estava
tomado pela revolta.
Existem muitos que estão sofrendo
deste mal dentro da igreja; não consegue encarar seu irmão apenas como irmão.
Não conseguem viver em unidade. Não conseguem torcer pelo sucesso do seu
semelhante. Não conseguem chorar com os que choram e nem se alegrar com os que
se alegram. Vivem em uma constante rivalidade espiritual.
Ninguém quer ser o menor no
reino de Deus, todos querem ser grandes. Enquanto estamos envolvidos nesta
disputa pelo poder, pela posição e pelo status, o amor de Cristo está sendo
esmagado em nossos corações.
Ignoramos o sofrimento do
nosso irmão, nos esquivamos da sua dor. E agimos como se só o que importasse
fosse nossa vida, nossos objetivos e nossa posição. Quando agimos assim estamos
ignorando o fato de que o amor a Deus sobre todas as coisas só pode ser
manifestado quando amamos o nosso irmão – amar é: cuidar, respeitar, se
compadecer, dá a mão.
Penina tratava Ana com
crueldade.
Penina dedicava um período
do seu dia para atormentar, ridicularizar e zombar de Ana. Foi a forma que ela
encontrou para punir a Ana por ter supostamente “roubado” toda atenção de
Elcana.
Talvez no íntimo do seu
coração o que Penina desejava era abraçar e consolar a Ana. Mas a revolta, a
carência, fez dela uma mulher cruel, fria, insensível, que não se importava com
a dor de seu semelhante. Eu imagino que depois de atormentar a Ana, ela se
recolhia ao seu quarto e se perguntava, porque eu falei essas barbaridades para
Ana?
Porque eu a tratei com tamanha crueldade? Porque eu ri do seu sofrimento?
Existem muitos que estão
sofrendo com a síndrome de penina. Tratam com crueldade seu irmão, falam
deliberadamente palavras que machucam, agem inconseqüentemente se importar com
os danos que estão causando. Depois cheios de remoço lamentam o estrago que
fizeram. É por isso que facilmente esbarramos em alguma “Ana” chorando pelos
cantos da igreja, com sua alma amargurada, ferida e despedaçada.
Mas da mesma fonte que jorra água para sarar a alma de
Ana, também jorra água para libertar Penina dos seus traumas.
Jonilson Pinto